À custa do dinheiro público, os deputados estão fazendo as mais diferentes e incompreensíveis viagens em missão oficial, termo técnico para dizer que alguém viaja em nome do interesse do país. Os principais destinos são, coincidentemente, os mesmos de qualquer turista: França, Espanha, Estados Unidos, Itália e China. Nos relatórios para justificar a utilidade pública das visitas há de tudo. Desde o argumento de que passear no trem de alta velocidade coreano é fundamental para formar ideia sobre a proposta do governo para construir algo semelhante no Brasil, até a importância para a cultura nacional de visitas a museus franceses e norte-americanos. Essas viagens — sob o pretexto do interesse público— custam caro. Somente em diárias, a Câmara pagou mais de US$ 300 mil nos últimos dois anos, o equivalente a meio milhão de reais. Some-se a isso mais de 400 passagens aéreas internacionais, algumas em classe executiva, cujo preço costuma ser o dobro da econômica.
A preferência dos deputados por desempenhar missões no exterior foi três vezes maior do que os pedidos feitos para a atuação em atividades oficiais nos municípios brasileiros, onde deveriam efetivamente prestar serviços. As ações das comissões da Casa e as audiências e visitas in loco pelo país renderam, desde 2009, 72 viagens pelos estados. Enquanto isso, o número de permissões para que os deputados deixassem o país em nome do parlamento foi de 207, considerando apenas os parlamentares da legislatura passada que continuaram na Câmara. Segundo técnicos da Casa, se o critério de busca for ampliado e incluir os que não renovaram mandatos, as autorizações passam de 400.
Este ano, o número de viagens disparou. Já foram 39 internacionais, contra 19 nacionais. Algumas delas foram, inclusive, realizadas durante o recesso parlamentar. O deputado João Carlos Bacelar (PR-BA), por exemplo, esteve na Espanha entre 20 e 27 de janeiro para visitar a Feira Internacional do Turismo. Ganhou diárias de US$ 350 e passagens pagas pelo erário. Os cofres públicos bancaram também as passagens e cinco diárias para que o deputado Jorge Silva (PDT-ES) fosse à China participar do Festival da Peônia, flor símbolo da cidade de Luoyang. Em homenagem às cores das flores, os chineses celebram a festa da primavera.
Na lista de viagens realizadas pelos parlamentares cujo objetivo é difícil perceber está a ida do deputado Angelo Vanhoni (PT-PR) aos Estados Unidos para visitar 20 museus, incluindo os famosos Museu de Arte Moderna e Metropolitan Museum, duas atrações da cidade de Nova York.
Este ano, o deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES) foi para Nova York no início do mês para participar da feira internacional de cafés especiais e Cleber Verde (PRB-MA) passou oito dias em Paris para participar de evento sobre saúde animal. Em diversidade de destinos, ninguém bate o deputado Átila Lins (PMDB-AM). Nos últimos dois anos, ele visitou Etiópia, Suíça, Tailândia, Estados Unidos, Panamá e Turquia. Os dois últimos, no início deste ano.
Diário de Pernambuco.
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